terça-feira, 6 de abril de 2010

O Cantador De Taperoá Vital Fárias



O Homenageado de hoje tem uma história interessante. Embora uma boa parte dos brasileiros conheçam algum trabalho seu, e até cantem, poucos são os que sabem que é dele e conhecem um pouco mais desse grande brasileiro, paraibano de Taperoá, enorme talento, cantador de primeira linha e poeta dos melhores que esse país já produziu.
Vital Farias é o homenageado de hoje do “A Arte Do Meu Povo”.
Para falar de Vital, como sempre faço, busquei informação. E na minha pesquisa encontrei o site oficial www.vitalfarias.hpg.ig.com.br e foi dele que retirei essas palavras:

Vital Farias fez seus primeiros estudos em casa, com seus irmãos mais velhos, lendo folhetos de cordel, ainda na Pedra D'Água, sítio onde nasceu, no município de Taperoá - Paraíba. Logo depois, começou seus contatos com a cidade de Taperoá, onde cursou o primário no Grupo Escolar Felix Daltro. Fez exame de admissão e parte do ginásio na Escola Professor Minervino Cavalcanti, que funcionou no mesmo grupo escolar, idealizado pela então benfeitor e amigo de todos nós Dr. Adonias de Queirós Melo (dentista, homem de muito amor pelas causas educativas).”

No site tem muito mais, aconselho você a fazer uma visita.



Das deliciosas obras de Vital Farias, aqui estão algumas pra você se deliciar...


Ai que Sodade d´ocê

Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade d'ocê
Se um dia você se alembrar
Escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio
Com frases dizendo assim
Faz tempo que eu não te vejo
Quero matar meu desejo
Te mando um monte de beijo
Ai que saudade d'ocê
E se quiser recordar
Aquele nosso namoro
Quando eu ia viajar
Você caía no choro
E eu chorando pela estrada
Mas o que eu posso fazer
Trabalhar é minha sina eu gosto mesmo é d'ocê






Caso você Case

Caso você case
Não escreva nota
Não destrave a porta
Não esteja morta
Não estrague a horta
Faca que não corta
Mulher semi-morta
Sem cara, sem fala, sem bala,
Sem hora, sem ala
É necessário tudo: mudo, surdo, absurdo
É necessário nada, fada, fa, nada
Nada em fa
É necessário: nada, tudo, mudo, surdo, absurdo
Nada em fa fazer
Caso você case
Não escreva nota musical
Não destrave a porta do quintal
Não esteja morta
Não estrague a horta


Era casa era jardim


Era casa era jardim
Noites e um bandolim
Os olhares nas varandas
E um cheiro de jasmim
Lara, lara, lara, lara, lara

Era um telhado um pombal
Melodias e madrigal
E ninguém nem percebia
Que o real e a fantasia
Se separam no final
Lara, lara, lara, lara, lara






Veja Margarida

Eu vou partir pra cidade garantida, proibida
arranjar meio de vida, Margarida
pra você gostar de mim
essas feridas da vida, Margarida
essas feridas da vida, amarga vida
pra você gostar...

Veja você,
arco-íris já mudou de cor
uma rosa nunca mais desabrochou
e eu não quero ver você
|com esse gosto de sabão na boca

veja meu bem, gasolina vai subir de preço
eu não quero nunca mais seu endereço
ou é o começo do fim ou é o fim...

Eu vou partir
pra cidade garantida, proibida
arranjar meio de vida, Margarida
pra você gostar de mim

Essas feridas da vida, Margarida
essas feridas da vida, amarga vida
pra você gostar de mim

Essas feridas da vida, Margarida
essas feridas da vida, amarga vida
pra você gostar de nós




Saga Da Amazônia


Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era: fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar
e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, prá onde vai se mudar???
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:

Pos mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor
prá gente que tem memória, muita crença, muito amor
prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador...





"E VIVA A ARTE DO MEU POVO!"

2 comentários:

  1. Sou admiradora do trabalho de Vital, é meu parente e eu nem o conheço pessoalmente. Sua obra enaltece a nossa cidade natal (Taperoá PB).

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  2. Que bom que ainda existe pessoas como voce , para nos trazer de volta essas pérolas da nossa cultura.Parabéns.

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