domingo, 1 de julho de 2012

De Uma Estória de Chico Anysio

            Em um passado recente tive acesso a alguns textos do Grande Mestre Chico Anysio, e fiquei encantado com a qualidade, já era fã incondicional do humorista e me apaixonei pelo trabalho do escritor, que descrevia o nordeste como poucos, ele tinha sensibilidade de colocar nos textos o cotidiano do sertão nordestino. Eu afirmo, sem medo de errar, que Chico Anysio foi um dos grandes nomes da cultura brasileira do século XX, deixou excelentes trabalhos na literatura, na música, na poesia, nas artes plásticas, sem falar no seu legado no humor televisivo que ninguém superará. Chico foi sim um grande homem que merece ser reverenciado pelos amantes da cultura nacional.
 
              Mas como dizia no início do texto, tive acesso a alguns trabalhos dele, que me encantaram. Então resolvi contar, em poesia popular mais especificamente em décima, um causo inspirado em uma de suas estórias, contidas no livro “O Tocador de Tuba”, de 1977, a estória original tem o título de “Juliana”, eu então adaptei para, “De uma história de Chico Anysio”. Minha intenção é de uma forma simples, mostrar a genialidade desse grande nordestino, pois precisamos de bons exemplos hoje para a nossa juventude. VIVA AO GRANDE E ETERNO CHICO ANYSIO!
         O trabalho tem erros, já que não sou perfeito, nem me considero poeta ou escritor, apenas um escrevinhador de versos ozado que gosta de homenagear quem realmente tem VALOR nesse país.
 
Assim  “O A ARTE DO MEU POVO”  apresenta para vocês...




De Uma Estória de Chico Anysio
-Nivaldo CruzCredo. 30.06.2012-

Causo inspirado no conto de Chico Anysio, Juliana, do livro” O Tocador de Tuba”, de 1977.

Domingo é um dia diferente
Dia do descanso de Deus
Dia de ficar com os seus
É um dia pra diversão da gente
E para ir a igreja, o crente,
Devia ter mais de um na semana
Imagine aí como seria bacana,
Pro comércio não seria tão legal,
Mas pro povo ia ser fenomenal
Mais um  pra descansar a pestana.

Gosto tanto desse abençoado dia
Que meu aniversário é comemorado
Em um domingo  belo e  ensolarado
Pois é dia de muita  festa e alegria,
Por isso por Zé  Domingo da Bahia
Sou chamado e conhecido
E pelo povo todo reconhecido
Amante do primeiro dia semanal
Acreditando que ele é o dia tal
Bom demais para ser bem vivido.

Pois faz dez domingos ,patrão!
Que me acordei  mei sufocado
Com um aperto no peito e suado
Com uma grande desanimação
Que doía todo o meu coração
A vida não fazia mais sentido,
Tava bem do desiludido
A vontade era com a vida acabar,
Amarrar uma corda e me enforcar
Pra vê se sumia todo o acontecido.

Nem para ir a santa missa dominical
A danada da vontade quis aparecer,
Então resolvi  isso esquecer
Porque acho que é  fundamental
Para ir, gostar de está no local,
Resolvi fazer um passeio então
Pra vê  se acalmava aquela situação,
Saí  atoa pelo mei do mato
Pra comer de ar um bom prato
E melhorar a agonia do coração.

Subindo a beira do rio esturricado,
Ia eu bem do vago – distraído,
Querendo acabar com o muído
No meu coração agoniado,
Foi quando topei com o pecado
Nas pastage do coroné
Antonio Francisco du Dé,
Ela tava bem alizinha
Toda, toda dengosinha,
Parecia  que dizia, vem zé!

Confesso mesmo a vossa senhoria
Que num sou macho de negá fogo
Nem  cabra de  rejeitar  um rôgo,
Conheço muita  burra da freguesia
Boa parte até já me deu alegria
Mas tenho um chamego a mais
Pela burra de Giberval Capataiz,
Era ela que tava lá no local
Querendo me levar pro mal,
Logo agora que eu queria paz.

Riulana era o meu apaxonamento
E como homem é bicho do cão,
Veio logo  a danada da má intenção
Dalí  fazê um safado ajuntamento
E passar do nosso alisamento
Pra coisa mais safadenta
De esquecer  as jumenta
E partir pra burra gostosa
Sem precisar de muita prosa
Começar logo o esquenta.

Procurei logo um barranco
Mas o tal num facilitava
A altura ideal faltava
Para melhorar o solavanco
Precisava era dum banco
Pra amar minha burrinha,
Porém aquilo ali não tinha
Depois de muita procuração
Encontrei  a minha solução,
Uma pedra redondinha.

A pedra tinha um palmo de altura
Era o necessário para colocar
A minha ferramenta naquele lugar
E consumar aquela boa loucura
De viver a paixão com a doce criatura,
Subí e fui logo me aprontando
Riulana pro lugar foi chegando,
Abaixei  minha calça e o calção
Comecei a alisar, passar a mão
E a safadeza foi aumentando.

Sapequei bem devagazinho
A burra nem se quer sentiu,
Se ela sentiu, num reagiu
Empurrei mais um pouquinho,
Bocadinho a bocadinho
Riulana nem  se quer ligava,
Se ligava num mostrava,
Eu ali me acabando
E danada pastando
Nem os dente mostrava.

Foi aí que tudo aconteceu,
O diabo de um motorista
Tirando onda de artista,
Querendo aparecer, o  ateu
Da buzinada que o tal deu
Pra mostra que tava chegano
Quase estoura o cano
Da danada da buzina,
Queimou a luz da esquina,
Entortou o que era plano.

Era o ônibus lá da capital
Que só passava naquele dia
Para levar os que lá ia
Fazer muitas coisas e tal,
Vender fruta e animal
Na feira do mercado,
Naquele horário marcado
Passava sem se atrasar
Nem se fazer esperar
Por quem era aguardado.

Meu patrão eu tinha esquecido
Desse detalhe  muito do azarado
Foi quando paguei o meu pecado
Pois com o tal  do malacontecido
Meu plano tava era todo perdido,
Riulana um grande susto tomou
A minha ferramenta ela trancou
E saiu louca numa só disparada
Eu com as minhas calça arriada
Caí da pedra  redonda, que rolou.

A situação era bem complicada
Pois num tinha onde eu segurar,
Nem como fazer a burra parar
Era ela correndo desesperada
Eu  atrás com ferramenta engatada
Correndo nas ponta dos dedo
Com grande preocupação e medo,
Com as calças arriada ficava  ruim
E eu corria parecendo  um Pinguim,
A essa altura já não era tão cedo.

A missa devia tá acabando,
E uma missa dominical
Não é acontecimento normal,
Vai todo mundo do povoado
Do pobre ao mais abastado,
Todo mundo vai pra lá,
Uns vão é para rezar
Outros tão lá pra fofoca
Alguns pra sair  da toca,
Mas tá toda gente do lugar.

E para piorar a minha situação
Riulana parecia está possuída
Tamanha era sua corrida,
Acho que tava ouvindo era o cão
Ou vendo uma assombração,
Num tinha jeito de fazer parar
Nem minha ferramenta folgar,
O pior ainda ia acontecer
Pode acreditar vois micê
Muito pior o causo ia ficar.

A burra tomou o rumo da cidade
Eu entrei num grande desespero
Preferia ter caído num vespeiro
Seria menor a minha infelicidade
- Um home véi dessa idade,
Fazendo esse tipo de ozadia,
As beata gritando eu já ouvia,
Foi quando vi de longe a multidão
Saindo naquela hora da celebração,
Pois já era quase meio dia.


Foi  bem grande a confusão
Quando a burra entrou na praça
Ali começou minha desgraça
Do padre ganhei logo excomunhão
Do delegado  essa exclamação:
- Bota logo essa cabra em cana,
Prende esse fie duma égua sacana!
Com isso era grande a rizadaria
Da molecada chagada na putaria
Essa era a tal situação tirana.

Quanto mais  pedia pra parar
Mais ela adentrava o povoado
E seguia bem para o mercado
Local da feira daquele lugar
E domingo era dia da dita de lá,
A mulher do seu prefeito
Caiu de qualquer jeito
Quando aquela cena viu,
- Puta que me pariu!!!
Gritou um vereador eleito.

A burra  se quer  descansava,
O povo lá na maior algazarra
Fazendo uma grande  farra,
Minha ferramenta  num guentava
Quanto mais doía, mais apertava,
Eu rezando pra aquilo acabar,
Mas acho que era pra castigar,
Porque nem um santo fez nada
Me deixando naquela cilada
Só olhando  eu me lascar.

Depois de muito tempo passar
Riulana  foi e se acalmou
A minha ferramenta soltou
E sonsa foi pro  lado de lá,
O povo chegou pra olhar
Eu muito retado fiquei
Pro povo virei  logo e  gritei
- O que foi? Nunca me virão não?
-Já, mas não nessa situação?
Gritou  um gaiato vermei.

Eu tava era todinho  suado
Quando Capataiz veio e chegou
Como dono da burra se apresentou
Foi ficando logo do meu lado
Começou me chamando de tarado
Dizendo que Riulana era donzela
E que eu tinha de me casar cum ela,
Aí a gozação foi grande, foi geral
Daí em diante o desassossego foi total,
Era a burra, e eu o marido dela.

Desse dia até a atualidade
Aos domingos, ninguém me vê
Veja como é que é  vois micê
No dia de maior felicidade
Foi que aconteceu a  fatalidade,
Que num gosto de alembrar,
Por isso fico aqui no meu lugar
Passo o dia todo na cama deitado
E só  fico de novo assanhado.
Quando Riulana vem me chamar.

Esse causo é para homenagear
O nosso grande mestre do humor
Francisco Anísio, sou doutor,
Faz parte da sua obra espetacular
A história que me fez inspirar
Para colocar nesse causo apresentado
Minha intenção foi dar o recado
E evitar que não seja esquecido
O trabalho pelo mestre produzido
Esse irmão nordestino arretado.

 
Pra não esquecer jamais: 

Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, conhecido como Chico Anysio (Maranguape, 12 de abril de 1931Rio de Janeiro, 23 de março de 2012), foi um humorista, ator, dublador, escritor, compositor e pintor brasileiro, notório por seus inúmeros quadros e programas humorísticos na Rede Globo, emissora onde trabalhou por mais de 40 anos.[1]
Ao dirigir e atuar ao lado de grandes nomes do humor brasileiro no rádio e na televisão, como Paulo Gracindo, Grande Otelo, Costinha, Walter D'Ávila, Jô Soares, Renato Corte Real, Agildo Ribeiro, Ivon Curi, José Vasconcellos e muitos outros, tornou-se um dos mais famosos, criativos e respeitados humoristas da história do país.

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Chico_Anysio
"E VIVA A ARTE DO MEU POVO!!!!!"