quinta-feira, 4 de março de 2010

POETA ZÉ LAURENTINO




Outro grande representante da nossa POESIA POPULAR, é o paraibano Zé Laurentino.
Cabra dos bom, que mostra de forma simples/genial o cotidiano do sertanejo nordestino, seu jeito, sua graças,nosso viver.

O site www.usinadeletras.com.br, fala assim do poeta...


“Zé Laurentino é natural do Sítio Antas, Puxinanã - PB. Caririzeiro, de orígem rural, começou fazer versos aos 12 anos de idade.
Estudou no Ginásio Comercial “Plínio Lemos”, onde demonstrou sua inclinação de líder, exercendo a atividade de representante de classe e presidente do Grêmio Estudantil. Foi eleito vereador em 1972, sendo o segundo vereador mais votado. Nos palanques recitava, arrancando aplausos do público com um dos seus primeiros poemas: “Retorno à Casa Paterna. Já exerceu a função de Presidente da Casa do Poeta Repentista de Campina Grande (Casa do Cantador) por mais de uma vez.
Foi desenvolvendo sua criação poética e não parou mais. De inteligência privilegiada o poeta Zé Laurentino coloca-a serviço do seu povo, fazendo rir e tirando lições do acontecer cotidiano caipira.
É como Amazan, seu contemporâneo e sucessor, prende a atenção do público quando está declamando suas poesias matutas, cascateadas de caboclo humor. Quem tem “competência se estabelece” e estes dois poetas, são prova disso. Sentaram praça na “poesia matuta” nordestina, sendo ambos seus melhores representantes da atualidade.
A Zé Laurentino é a encarnação do interior nordestino, este sentir rústico, forte, telúrico e pândego ao mesmo tempo.
Autor das seguintes obras:
Sertão, humor e Poesia [5 edições/1990]; Meus Versos Feitos na Roça;Carta de Matuto; Na Cadeira do Dentista; Poesia do Sertão; Dois Poetas Dois Cantares [Parceria Edvaldo Perico]; A Grande História de Amor de Edmundo e Maria (Cordel); Poemas, Prosas e Glosas [1988]. (maria do socorro cardoso xavier)”


E aqui dois poemas desse genial poeta popular...

O Matuto e o Doutor
Zé Laurentino

Douto não sou rico não
Mas vivo desapertado
Tenho uma casa de aipende
Vinte cabeça de gado
Uns quatro burro de caiga
E um cavalo manga laiga
Prumode eu andá montado.

Tenho uma roça bonita
De uveia tenho rebanho
Tenho um açude cheinho
Só mecê vendo o tamanho
Onde eu dou água a meu gado
E quando o calo ta danado
Serve mode eu toma banho.

Tenho um casa de menino
Uma mulé de verdade
Tenho um rádio falado
Que eu comprei na cidade
E uma viola de pinho
Onde toco bem cedinho
Mode espantá a sodade.

Um boi, um cutivador,
Vinte quadro de raiz,
E tá todinho cercado
A cerca fui eu quem fiz
Bode p’ru riba não sarta
Mais com tudo ainda farta
Uma coisa preu ser feliz.

Pode acreditá douto
Eu vivo sentindo fome
Mas não é fome de comida
Lá em casa a gente come
Tem dinheiro na gaveta
Eu sinto fome é das letra
Eu quero assiná meu nome.

P’ra eu não mandá lê carta
Pelos fí de seu Honoro
Pruquê as veis é segredo
E ele espaia o falatoro
Descubrindo os meu segredo
Pra eu não suja mais os dedo
Nos tinteiro dos cartoro.

P’ra não anda preguntando
Os carro pra donde vão
P’ra quando eu fô p’ra os banco
Não leva pricuração
Quero meu nome assina
Prumode eu também vota
Nos dia de eleição.

Me ensine lê seu douto
Eu peço pru caridade
Voimicê que é sabido
Que mora aqui na cidade
Me ensine a lê e conta
Prumode eu completa
A minha felicidade.

Doutor:
Caboclo eu não te ensino
Mas te aconselho, afinal
Quer aprender a ler?
Carta, bilhete, jornal?
Ler, escrever e contar
Pois vais te matricular
Num dos postos do Mobral.

Lá tu irás encontrar
Professora competente
E que no mundo dos livros
Vai clarear tua mente
Saber é algo profundo
Tu irás ver este mundo
Com uma visão diferente.

Vais caboclo nordestino
Da bravura és o perfil
A escola te espera
Com teu aspecto gentil
Ponha os livros nas mãos
Vais ajudar teus irmãos
A educar o BRASIL.

Matuto:
Muito obrigado douto
Pelo conseio, o afeto,
Vô convida a mulé,
Meus fios tomém meus neto
Não vô mais sê imbeci
E breve eu grito ao Brasí
Não sô mais anarfabeto!

Vô hoje mermo p’ra iscola
Com o livro, caderno e giz
Pois estudano eu tomem
Ajudo ao meu país
Depois que eu aprende a lê
Aí eu posso dize
Sô um caboco feliz!!!


MATUTO NO FUTIBÓ
Zé Laurentino

Hoje o pessoá do mato
Já ta se acivilizano
Já tem rapaiz istudano
Pras banda da capitá
Já tem moça que namora
Com o imbigo de fora
Eticéta e coisa e tá
Mais essas coisas eu estranho
Me dano e num acumpanho
A tá civilizaçäo
E até que a morte me mate
Nunca fui numa buate
Nunca vi televisäo
E esse ta de cinema
Eu num sei nem cuma é
Se é home, se é muié
Se vem da lua ou do só
Um triatro eu nunca vi
E também nunca assiti
Um jogo de futibó
É isso mermo, paträo
Eu nasci pra ser matuto
Vivê qui nem bicho bruto
Dando de cumê a gado
E eu acho qui sô gente
Pruquê um véi meu parente
Dixe que eu sô batizado
Mas pru arte dus pecado
Um fí de cumpade Chico
O fazendero mai rico
Dali daquele arredó
Cum priguiça de istudá
Inventô de inventá
Um jôgo de futibó
E no paito da fazenda
Mandou butá duas barra
E eu fui assití a farra
Do lote de vagabundo
Mas quando eu vi afrôxei
E acrediti qui achei
A coisa mió do mundo
Eu, cabôco lazarino
Cum dois metro de artura
Os braço dessa grossura
Medo pra mim é sulipa
De jogá tive um parpite
E aceitei o convite
Prumode jogá de quipa
Me déro um carçäo listrado
E um pá de jueieira
Também um pá de chutera
E uma camisa di gola
E eu gritei “arra diabo
Eu já peguei tôro brabo
E segurei pelo rabo
Pruquê num pego uma bola?”
Sei que o jogo cumeçô.
O juiz bom e honesto
Pra cumeçá era Ernesto
O nome do apitadô
Qui mitido a justicêro
Prumode o jogo pará
Bastava agente chuta
A cara do cumpanhêro
Bola vai e bola vem
Um tá de Zé Paraíba
Inventô de dá um driba
No fí de Chica Brejera
Esse lhe deu uma rastêra
Qui o pobre do matuto
Passô uns cinco minuto
Inrolado na pueira.
O juiz mandou chutá
Uma bola contra eu
Pruquê meu fubeque deu
Um coice no Honorato
Aí o juiz errou!
Se o fubeque é qui chutô
Ele que pagasse o pato
Mais afiná, meu paträo,
Num gesto de confusäo
Mandei o cabra chutá
E fiquei iinsperando o choque
Tanta força a bola vinha
Que vinha piquinininha
Qui nem bola de badoque
Quando eu fui pega a bola
Me atrapaei, meu paträo
Ela escurregô do braço
Bateu numa regiäo
Qui foi batendo e eu caino
Espulinhando no chäo.
O povo batêro inrriba
Me dero um chá de jalapa
Uns três copo de garapa
Mais um chá de quixabeira
Quando eu tive uma mióra
Juguei as chutera fóra
Saí batendo a puêra.
Daquele dia pra cá
Nem pru mode ganhá dinheiro
Num jogo mais de golêro
Nem cum chuva e nem cum só
Nem aqui nem no diserto
Nunca mais chêgo nem perto
Dum campo de futibó


" E VIVA A ARTE DO MEU POVO!"

3 comentários:

  1. estou buscando a poesia "EXISTE FELICIDADE" de jose laurentino, que encontrar favor enviar para meu email jeancbarreto@hotmail.com.
    grato

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  2. gostaria muito de rever o poema que zé fez em homenagem ao colegio Plinio lemos onde ele estudou se alguem souber mande para o meu e-mail,obrigada.lucinalva.leo@hotmail.com

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  3. Gostaria quem tiver o poema de Zé laurentino que fala de uma moçá que ele gostava e que ela perde a mão moendo mandioca no motar da casa de farinha , ai ele finaliza o poema dizendo , Cuma eu peço a mão dela , se ela não tem mais mão ?
    Muito lindo e emocionsnte este poema , mas pouco conhecido.

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