quinta-feira, 18 de março de 2010

Nivaldo Cruz Em Vado Do Véi Pêdo E A Lenda Da Sapucaia-Roca



Eis aqui mais uma lenda brasileira em verso popular, de minha autoria e como as outras inspirada nas pesquisas do Grande Brasileiro CÂMARA CASCUDO.
Espero que você goste, comente e indique o nosso blog para os amigos. Pois, a intenção é que ele seja um espaço de valorização da nossa cultura, nossa brasilidade brasileira, tão deixada de lado e esquecida pelos grandes meios de comunicação.
Por fim, só dizer que: o povo que não valoriza sua cultura jamais poderá conhecer o verdadeiro sentido do que é ser uma nação.


Vado Do Véi Pêdo E A Lenda Da Sapucaia-Roca
(Nivaldo Cruz)


Agradeço mais uma vez
A presença dos doutores
Pra apreciar a contada
De um causo pros senhores.
Causo de povo da gente
Desse Brasil de glamores.

País de muitas histórias
De um povo varonil
Só de lendas sei contar
Tem muito mais de mil
De Causos nem conto.
Esse é o precioso Brasil.

Essa que vou lhe contar
Foi no Norte que aconteceu
Uma povoação existia
Mais depois desapareceu
Vossas mercês vão agora
Saber o que se sucedeu.

No norte bem pertinho
Nas margens do Rio Madeira
Viviam os Muras
Gente muito festeira
Pior que também
Era má e desordeira.

Nas noites de festa
Em honra ao Deus Tupana,
Entregavam-se de corpo
A dança lasciva e profana
Cantava cantigas impuras
De forma muito mundana.

Fazendo assim
Os Angaturanas chorar,
Estes eram espíritos
Com a nobre missão de velar
Pelo bem de todos
Os viventes do lugar.

Os bons espíritos
Choravam de tanta dor
Por ver o seu povo
No descaminho do amor
Fazendo o errado
E dando total valor.

Muitas vezes os velhos
Pajés assim inspirados,
Advertiam o povo
Sobre os Deuses irados
Dizendo pra eles
Pararem com os pecados.

Mas como sempre
Nesses casos acontece
Ninguém ouviu
Dos pajés as prece
E continuou a bandalheira.
O que será que merece?

Agora o senhores vão ver
O que foi que aconteceu
Com aquele povo que
Os deuses desobedeceu.
Fui uma lição.
Será que se aprendeu?

Cegos e surdos de pecado
Os Muras nada ouviam
Do que os velhos pajés
Gritando lhes diziam
O fim estava chegando
E o pior, eles não viam.

Então aconteceu
Tudo em um grande dia
Quando todos em festa
E esta festa muito fervia,
Faziam de tudo,
Todo o tipo de orgia.

Mas que de repente
A terra todinha tremeu
As águas se ergueram
O chão entonse rompeu
A povoação imergiu
E os povo desapareceu.

Altas barrancas
Ainda hoje no rio há
Atestando a profundidade
Do abismo no dito lugar
E comprovando
A tá lenda dos Muras de lá.

Muito tempo depois
Começou então a surgir
A atual povoação
Que hoje existe por ali,
Mas o tal grau de esplendor
Não conseguiu atingir.

Os Muras voltaram
Então a habitar o lugar,
E nas noites escuras
Começaram a escutar,
Transidos de medo,
Muitos galos a cantar.

Os cantos sonoros
Vinham do fundo de lá
Bem do fundo do rio
Naquele grande penar
Cantando e chorando
Pra todos, a sorte má.

Os pajés consultados
Deram assim o esclarecer
Que aquilo que ouvia
Todos antes do amanhecer
Eram os Angaturanas, vindo os
Filhos dos Muras proteger.

Se serviam assim
Dos galos despertador
Da Sapucaia-Rouca
Que no Rio se afundou
Sendo assim uma aviso
Pra aqueles que aqui ficou.

Pra que estes
Não caiam no mesmo mal
Por isso cantando
Eles dão a todos o sinal
Advertindo que dos
Deuses eles tem o tal aval.

Vado do Véi Pêdo
Foi quem tudo me contou
Dessa lenda do norte
E também a mim demonstrou,
Tá interessado em descobrir
Da povoação o que sobrou.

Na próxima viagem
Ele até muito falou
Que fizer pro norte
Já tudo adiantou
Que vai procurar
Onde tudo se afundou.

Quem sabe num encontra
Ouro e riquezas por lá.
Faz fortuna depois
Vem diretinho pra cá
Cheio da grana
Pensando até em se casar.

Num sei prezados,
Como tudo vai acabar.
Essa nova aventura
Depois prometo contar.
Se Vado vai mesmo
E o que é que vai achar.

Só sei que aqui
Eu prus senhores contei
Mais uma história
E não foi daqueles Reis
Foi lenda do meu Brasil
A terra prometida da vez.

De novo eu quero
Um pedido lhe fazer
Procure nossas
Histórias conhecer.
Câmara Cascudo.
Aconselho, comece a ler.

E se apaixone
Por essa terra sem igual
Pais que tem de tudo
Esse Brasil nacional.
O estrangeiro tem valor,
Tem, mas o nosso é anormal.



“E VIVA A ARTE DO MEU POVO!”

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