domingo, 7 de março de 2010

Nivaldo Cruz E O Cordel Da Serpente Emplumada



Aqui mais uma de minha autoria, dentro da proposta da valorização das lendas do Brasil, inspirada na obra de Câmara Cascudo.

Cordel da Serpente Emplumada
(Nivaldo Cruz)


Então estou eu mais
Uma vez nesse terreiro
Trazendo conhecimento
Pra um bom brasileiro
Que gosta de conhecer
O seu povo por inteiro.

A lenda que hoje aqui
Tenho o prazer de contar
Aconteceu na terra Bahia
Nesse inigualável lugar
Cheio de encantos, mistérios
E magia, pode acreditar.

Bom Jesus da Lapa
Você já ouviu falar?
É uma das maiores
Romaria de fé que há
E a nossa grande lenda
Aconteceu foi mesmo lá.

Antes porém alguns fatos
Devo bem lhe informar
No ano de 1691
Um português de além-mar
Saindo de Salvador capital

Foi bem lá na Lapa parar.
Francisco Mendonça Mar
Esse era o nome do cristão
Que andou duzentas léguas
Em pura peregrinação,
Carregando um crucifixo
Passando fome e privação.

Com espírito de eremita
Da gruta foi um ermitão
Depois de muito tempo virou
Um servidor na região
Abrigando enfermos e dando
Aos doentes consolação.

Assim a grande gruta foi
Virando um’aglomeração
De pessoas de muita fé
Acreditando na salvação
E para ali todos iam seguindo
Pra fazer pedido e oração.

A caverna virou capela
Com assento e também altar
E cada dia que passava, mais
Penitentes via chegar.
Até nessa grandiosidade
De Romaria se transformar.

Foi em 1706 que
Francisco Mendonça Mar
Em padre se ordenou
Continuado a ajudar
A todos naquele sertão,
Pras suas dores aliviar.

Em 1722 foi que
Infelizmente aconteceu.
O bom padre Francisco,
Deus levou, faleceu.
Ficando a lembrança
De tudo que promoveu.

A imagem do Bom Jesus
A povoação dali fundou
No ano 1890 quando
Naquele lugar chegou.
Vila Bom Jesus da Lapa
Foi o belo nome que ficou.

Naquele ano de 1923 em
Cidade se transformou,
Vindo ser pra Bahia
Mais um grande esplendor
De fé e adoração a
Jesus Cristo Nosso Senhor.

Depois de bem esclarecido
Esse dado muito importante,
Que talvez até, vois micê
Nem ache tão interessante.
Mas é bom a gente falar
Com quem num é ignorante.

Dito isso, pois então
Agora vou tentar contar
A lenda pra vois micê, que
Vai começar a se animar
E saber mais um tiquim
Das coisa desse belo lugar.

Do lado esquerdo da gruta
Fica a Cova da Serpente
Que até trinta e seis era
Proibida a entrada de gente.
Ficava fechada e era temida
Por tudo quanto é vivente.

Ali dentro é que existia
Uma serpente encantada
Coberta de Quertzalcoatl
Era toda emplumada,
Vivia se sacudindo pra
Nascer asas na danada.

O povo do lugar conta
Que a serpente então
Depois que deixasse a cova
Ia comer todo cristão
Que se encontrasse ali
Naquela mesma ocasião.

As pessoas ouvia-lhe o ronco
Cavernoso, sinistro e ameaçador
Avisando que era um perigo
Daquele monstro comedor.
Era terrível, assustador e fatal
O gemido ensurdecedor.

No fim do século Dezoito
Frei Clemente começou
Na Lapa as Santas Missões
O canto ele amaldiçoou,
Pois era da grande serpente
Que o próprio cão iniciou.

O pobre frade reconhecia
O canto da serpente alada,
Que se preparava para
A população assombrada
Devorar toda de uma vez,
Dando só uma bocada.

Desse vôo primeiro que
Seria assustador e mortal
Não ia sobrar um vivente
Seja planta, gente ou animal,
Tudo ia virar comida para
Esse horrível ser bestial.

O padre então teve
De Nossa Senhora a visão
E disse pros romeiros
Ter encontrado a solução,
Pois a Mãe de Jesus
Ia fazer a interseção.

A Santa só pediu então que
A partir daquela bendita hora
Todos começassem a rezar
O Ofício de Nossa Senhora,
Só assim o encanto se daria
Pra serpente fugir, ir embora.

Foi assim como aconteceu
A cada oficio que era rezado
Uma pena da besta fera caia
E seu lugar era bem sarado,
Outra alí não nascia e no fim,
Tava o mal do encanto acabado.

Para cada peste de pena, da
Tal besta serpente que caía,
Outra pena naquele lugar
Nascer não podia e nem ia.
Era o poder da súplica
Que diante do mal, vencia.

Muito ofício foi rezado,
Milhares e tantas orações
Subiu pro céu e Deus ouviu
O choro dos pobres corações.
Com a interseção da Virgem
Acabou as peste das maldições.

A miserável da serpente
Já sem ter nenhum pena,
Ficou frágil e também
Muito, muito pequena,
Morrendo de furor, virada
Num’a gota serena.

Essa história mostra
Muito bem meu cidadão
O que pode fazer
O puder da oração,
Enquanto houver Deus
Não tem lugar pro cão.

Mais uma bela lenda
Aqui então lhes contei
Pra além de alegrar,
Fazer que vois miceis
Venha saber bem que
Esse nosso povo tem vez.

Câmara Cascudo
Esse bom brasileiro
Deixou tudo bem escrito
Conhecendo por inteiro
As histórias do meu povo
Escreveu bem certeiro.

Por isso se o bom bicho
Da curiosidade morder
Procure os livros do mestre,
Correndo comece a ler.
E o valor do nosso Brasil
Você vai bem aprender.

Assim findo mais uma
Religiosa e boa aventura
Sem nem se quer esquecer
Dessa vossa vida dura
E de como é bom pra nós
Cultivar nossa cultura.




“E VIVA A ARTE DO MEU POVO”

Um comentário:

  1. foi ótimo e super legal encontrar este cordel ,pois, meu trabalho escolar vai ficar d+!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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