Ontem o “A Arte Do Meu Povo” homenageou Dimas Batista, em outra oportunidade foi a vez de Otacílio e hoje é a vez do (não menos importante) Lourival Batista , esses três irmãos deram o que falar a nossa poesia popular nordestina. É difícil , digo até impossível, saber qual dos três é o melhor.
Hoje a gente, com honra, homenageia mais um gradne poeta dos Batista, Lourival esse grande poeta popular. Pesquisando no www.portaldopajeu.com/index.php?... Encontrei o seguinte:
“Lourival Batista Patriota, o Louro do Pajeú, era repentista, conside- rado o "rei do troca- dilho". Nasceu a 06 de janeiro de 1915 na Vila Umburanas, hoje Município de Itapetim (na época pertencia a São Jose do Egito). Concluiu o curso ginasial em 1933, no Recife, de onde saiu com a viola nas costas, para fazer cantorias.
Foi um dos mais afamados poetas populares do Nordeste. Irmão de outros dois repentistas famosos (Dimas e Otacílio Batista) e genro do poeta Antônio Marinho (a "Águia do sertão"), foi um dos grandes parceiros do paraibano Pinto do Monteiro. Satírico e rápido no improviso, era temido por seus competidores. Louro morreu em São José do Egito, a 05 de dezembro de 1992. “
Agora alguns dos momentos geniais da arte de Lorival Batista, o Lôro do Pajeú:
MOTE: PALHAÇO QUE RI E CHORA
I
Pinta o rosto, arruma palma
Dentre os néscios e sábios
O riso aflora-lhe os lábios
A dor tortura-lhe a alma
Suporta com toda calma
Desgostos a qualquer hora
Quando que bem, vai embora
Vive num eterno drama
Pensa, sonha, sofre e ama
Palhaço que ri e chora.
II
Se ama alguém com desvelo
Deixá-lo é martírio enorme
Se vai deitar-se não dorme
Se dorme, tem pesadelo
Sentindo um bloco de gelo
Lhe esfriando dentro e fora
Desperta, medita e cora
Sente a fortuna distante
Julga-se um “judeu errante”
Palhaço que ri e chora
III
Pelo destino grosseiro
A vida jamais lhe agrada
Se sente a alma picada
Tem que ir ao picadeiro
Não pode ser altaneiro
Não tem repouso uma hora
Chagas dentro, rosas fora
Guarda espinhos, mostra flor
Misto de alegria e dor
Palhaço que ri e chora.
IV
Palhaço tem paciência
Que da planície ao pináculo
Este mundo é um espetáculo
Todos nós, a assistência
A falta de inteligência
Gargalhamos qualquer hora
Choramos sem ter demora
Sem ânimo, coragem e fé
Porque todo mundo é
Palhaço que ri e chora.
Numa cantoria em São José do Egito, um rapaz que atendia pelo nome de DECA, ouvia os belos improvisos de Lourival, sem manifestar qualquer desejo de colaborar com os cantadores. A certa altura da cantoria, Lourival dirigiu-se ao rapaz, tomando por base as quatro letras que formavam seu apelido:
Boto o "d" e boto o "e"
Boto o "c" e boto o "a"
Depois um acento agudo
Em vez de DECA, é decá!
Tiro o "d" e tiro o "e"
Seu Deca, venha até cá.
Um cidadão por nome de André, presenciava uma cantoria de Lourival, quando ele tecia elogios aos contribuintes. A presença de André motivou o cantador para solicitar uma colaboração:
Eu me confio em André
Porque sua paga é grande
Tire o "r" e o acento
Que talvez o mesmo ande!
No princípio, bote um "m"
Por caridade, me mande.
Terso Rafael, rico fazendeiro, estava presente a uma cantoria de
Lourival, tendo sido saudado por este, com a seguinte estrofe:
Eu vou convidar a Terso,
Para ver se Terso vem
Melhoraria de sorte
Ficaria muito bem
Se terso mandasse um terço
Dos terços que Terso tem.
Outro senhor por nome José Tota, foi chamado por Lourival, para pagar a cantoria, quando este cantava com Canhotinho:
Canhotinho está na hora
De convidar José Tota
Tire o "t" e bote o "n"
Pra nós ganharmos a nota
Tire o "n" e bote o "b"
Para ver se Tota bota.
Recebendo duas notas de um sargento que presenciava uma cantoria, Lourival agradeceu, desejando-lhe promoção na carreira militar:
As notas deste sargento
Eu gostei de recebê-las
Deus queira que estas três fitas
Se transformem em três estrelas
Subam dos braços pros ombros
E esteja vivo pra vê-las.
Um outro sargento que ouvia Lourival, não contribuía com nada, tendo recebido o que mereceu:
Esse aí não será nunca
Nem capitão nem tenente
O galão que ele merece
É um galão diferente
É um pau com duas latas
Uma atrás, outra na frente.
Num desafio, o colega que cantava com Lourival termina um estrofe dizendo:
Num velho da tua idade
Eu dou é de dez a zero!
Lourival dá a merecida resposta:
Eu muito lhe considero,
Por isso estamos cantando
O grande defeito seu
É cantar se pabulando
Você pode dar o zero
Mas o dez fica faltando!
O mês já chegouao fim
O Papa não mais existe!
Lourival concluiu com esta sextilha:
Em tudo isso o mais triste
Morrerem os dois duma vez
O mês se acabou com o Papa
E o Papa no fim do mês
O mês sendo trinta e um
E o Papa era vinte e três.
Lourival é conhecido popularmente por "Louro" ou "Lourodo Pajeú", nome inclusive do hotel do seu filho Val, em São José do Egito. Falando sobre a sua vida disse:
É muito triste ser pobre
Pra mim é uma mal perene
Trocando o "p" pelo "n"
É muito alegre ser nobre
Sendo pelo "c" é cobre
Cobre figurado é ouro
Botando o "t" fica touro
Como a carne e vendo a pele
O "T" sem o traço é "L"
Termino só sendo "Louro"!
João Andorinha, referindo-se a um romance de João Martins de Athayde, "O Dragão do Rio Negro", fez esta advertência a Lourival:
Sou igualmente ao Dragão
Do Rio Negro, falado...
Lourival deu a resposta com este trocadilho:
Pra Dragão estáserrado,
Pois Lourival já te explica
Tira letra, apaga letra
Bota letra e metrifica
Tira o "d", apaga o "r"
Bota o "c", vê como fica.
Cantando com Ivanildo Vilanova, este falou da nobreza da família:
Sou príncipe dos cantadores
Porque papai é o rei.
Lourival destrona a família:
Com seu pai eu já cantei
Com você vou ver se canto
Eu fiz o pai verter lágrima
Faço o filho verter pranto
Dou no pai e dou no filho
Só respeito o Espírito Santo.
Numa reunião de amigos, foi solicitado a glosar no mote: Mulhernão tem coração.
Um cientista profundo
Solicitou-me uma vez
Que eu enumerasse os três
Desmantelos desse mundo
Eu respondi num segundo
Doido, mulher e ladrão
E disse mais a razão:
Doido não tem paciência
Ladrão não tem consciência
Mulher não tem coração.
Cantando com Otacílio, este para instigá-lo, elogiou-se:
Sou o gigante dos versos
O Cantador ideal
No campo da poesia
A minha fama é geral
Não tenho medo de Dimas
Quanto mais de Lourival!
A resposta de Lourival:
Mas inda sou general
Você, um soldado raso
Sem luz e sem consciência
Que quando me vê, se esconde
Pra não fazer continência.
Otacílio prossegue:
Seu repente tem essência
É feito sem embaraço
Mas sua viola é tão feia
Que só parece um cabaço
Mais bonita do que ela
Eu tenho visto em palhaço.
Otacílio no momento vestia-se alinhadamente e possuía uma viola bonita, nova e enfeitada, o oposto de Lourival, fato que mereceu esta represália:
Mais feia que a dum palhaço
Mas o dono é inteligente
A sua é muito enfeitada
Mas é fraco o seu repente
Não é coleira bonita
Que faz cachorro valente!
No mote dado pelo Dr. Raimundo Asfora, "Não tive amores sonhei-os / Mas possui-los não pude", Lourival fez esta belíssima estrofe, recitada por todos os apologistas e admiradores do mestre Louro:
Na vida provei abalos
E desesperos medonhos
Sonhos, sonhos e mais sonhos
Sem nunca realizá-los
Na fronde inda trago os halos
Das auras da juventude
Porém não tive a virtude
De dormir entre dois seios
Não tive amores, sonhei-os
Mas, possuí-los não pude.
Severino Pinto cantando com Lourival se auto-elogia:
No lugar que Pinto canta
Não vejo quem o confunda
O rio da poesia
O meu pensamento inunda
Terça, quarta, quinta e sexta
Sábado, domingo e segunda.
Lourival prontamente responde:
Sábado, domingo e segunda
Terça-feira, quarta e quinta
Na sexta não me faltando
A tela, pincel e tinta
Pinto, pintando o que eu pinto
Eu pinto o que Pinto pinta!
"E VIVA A ARTE DO MEU POVO!!!"
Parabéns
ResponderExcluirEstá lindo demais seu blog Nivaldo.
Que maravilha! Quanta sensibilidade, é disto que o Brasil precisa de gente como você e como estes brasileiros que você homenageia e enaltece.Muito bom mesmo fico feliz. Desejo sorte!.
Dizer o que, se o homem é da terra, onde as almas são todas de cantadores, como bem disse: Rogaciano Leite
ResponderExcluirEle é meu tio avô
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