Maciel Melo, esse é outro dos grandes nomes da nossa Cultura Popular e merece ser homenageado. Cantador de mão cheia, compositor/poeta de primeira e um apaixonado por tudo que é nosso. Por tudo isso ele é o homenageado de hoje do “A Arte Do Meu Povo!”.
Para saber mais sobre Maciel não existe lugar melhor do que o sitre oficial dele http://www.macielmelo.com.br/ e foi lá que encontrei essas palavras:
“Na entrada de Iguaraci, cidade do sertão pernambucano, a 363 km do Recife, uma placa avisa orgulhosamente: Está é a terra de Maciel Melo. Uma justa homenagem ao mais completo compositor de forró em atividade no Nordeste.
Aos 47 anos, completados em 26 de maio de 2009, Maciel Melo já entrou na história da música nordestina com o clássico Caboclo Sonhador, sucesso com Flávio José, com Fagner. Virou uma referência para onde se voltam tantos cantores do gênero, que vivem na região, ou os que emigraram para o Sul Maravilha. Xangai, Santanna, os citados Flávio José e Fagner, Zé Ramalho, Elba Ramalho (que conseguiu um de seus maiores sucessos juninos com Que nem vem-vem, em 1991).
O primeiro disco de Maciel Melo, lançado às duras penas em 1989, um bolachão de vinil, chama-se Desafio das Léguas. Já na estréia o artista sabia que a caminhada não seria fácil. Um disco ousado para um desconhecido. Desafio das Léguas (que está por merecer um relançamento em CD) tem participações de Vital Farias, Xangai, Dominguinhos, e Décio Marques. Como esses medalhões da música dos sertões foram parar num LP de um novato? Elementar, talento reconhece talento. Eles gostaram, de cara, das canções que Maciel lhes mostrou.
Porém havia uma longa estrada e riscos a enfrentar. Maciel Melo enfrentou a longa e tortuosa estrada do sucesso, desafiou e venceu os obstáculos que encontrou ao longo da jornada, e chega vitorioso ao nono disco, O Solado da Chinela (VS Music).
O Solado da Chinela, a música foi inspirada, acreditem, num par de chinelos velhos, daqueles bem surrados e confortáveis, testemunha de muitas histórias. O segredo do bom criador está na argúcia de vislumbrar o universo nas pequenas coisas desdenhadas pela maioria das pessoas. Basta lembrar o épico que Zé Dantas, nascido em Carnaíba, mesma região em que nasceu Maciel Melo, criou a partir do humilde riacho do Navio.
O Solado da Chinela, o disco, mostra o artista que chega aos 40 anos, não apenas como um melodista engenhoso e letrista preciso, mas também um grande cantor, e não só de suas próprias composições. Neste disco Maciel Melo faz releituras de O Menino e os Carneiros, de Geraldinho Azevedo e Carlos Fernando, Fuxico, de Dinho Oliveira,
Flor mulher, de Aracílio Araújo e Pinto do Acordeon, e Serrote Agudo, de José Marcolino (interpretada da forma como foi composta originalmente, antes de Luiz Gonzaga grava-la, um aboio, a capella), e conta com a participação do poeta popular Chico Pedrosa, em Pingo d'água, faixa que encerra o disco.
O que diferencia Maciel Melo de forrozeiros que se jactam de fazer o "autêntico" forró pé-de-serra, é, primeiro: ele não alarda que faz forró pé-de-serra, porque o faz tão naturalmente que não carece justificar isso. Segundo: porque, sertanejo, aprendeu com o pai, Heleno Louro, ou Mestre Louro, tocador de sanfona de 120 baixos, que o autêntico forró pé-de-serra não se limita à sanfona, zabumba e triângulo (um formato somente definido nos anos 40 por Luiz Gonzaga). Vale-se também violão com baixaria, sopros, cavaquinho e até banjo. Jackson do Pandeiro também sabia disso, na dúvida, ouçam seus discos dos anos 60. E por ser tão autenticamente sertanejo Maciel Melo não dispensa a guitarra elétrica, nem de reverenciar a nova música urbana do litoral, em o Coco da Parafuseta, no qual, entre citações a
Naná Vasconcelos, Rogê, Lula Queiroga, o Véio Mangaba, lembra Jacinto Silva (Coco em M), e Zé do Norte (Meu Pião).
E em O Solado da Chinela, Maciel Melo está, como sempre, muito bem acompanhado. Ao longo do disco, Spok vai esbanjando virtuosismo. Ouçam por exemplo o arraso de sax soprano do maestro em Flor mulher (além de Spok, arrasam Genaro, Quartinha, Bozó, João Neto, Zé Mário, Toninho Tavares, Juninho de Garanhuns, Vanutti, todos cobras criadas. E palmas para o coro formado por Rosana Simpson, Valkyria e Nena Queiroga).
Mas não é só a instrumentação que marca o disco trabalho de Maciel Melo. A temática de suas letras é fundamental para a continuidade do forró que teve as bases assentadas por Gonzagão. Em Maciel estão tanto as alegrias e desventuras do amor ("Vem dançar no meu terreiro/Vem brincar nesse salão/O meu amor é puro e verdadeiro/Me tornei um bandoleiro/Pra roubar seu coração", Bandoleiro), o lúdico ("Depois que inventaram a luz elétrica/Agora inventaram o apagão/Pode desligar essa molesta/Que forró só presta na base do lampião", de Forró do candeeiro), a poesia dos repentistas ("Eu quero pedir licença/Pros senhores dessa sala/Pra registrar minha fala/Dizendo um verso de amor/Sou um cantador/me casei com a saudade/Namorei a liberdade/Dei meia volta na dor", de Minha Fala, parceria de Maciel com Nico Batista. ). E por fim, mas não menos importante, o forró de Maciel Melo é feito pra dançar. O Solado da Chinela não precisa de adjetivos. Aqui não tem nada de forró pé-de-serra de ocasião, universitário da moda, moderno produzido em linha de montagem. É simplesmente atemporal, como toda grande música que se preze.
por José Teles, jornalista e escritor “
Meninos do Sertão
(Maciel Melo e Petrúcio Amorim)
Quando me lembro dos meninos do Sertão
Olho pro céu e vejo eu entre os pardais
Catando estrelas, desenhando a solidão
Ouvindo estórias de fuzis e generais
Lembrando rezas que aprendi no juazeiro
Que um violeiro me ensinou numa canção
Bebendo sonhos era assim o meu destino
Mais um menino na poeira do Sertão
Quando me lembro dos meninos do Sertão
Beijando flores era eu em meu jardim
Qual borboletas bailarinas de quintais
E um arco-íris de esperança só pra mim
E a liberdade feito um pássaro de seda
Voava alto nos planos de menino
Nas travessuras imitava os meus herois
Luiz Gonzaga, Lampião e Vitalino
Quando me lembro dos meninos do Sertão
Vejo Hiroshima nos olhares infantis
Vejo a essência da desigualdade humana
Num verdadeiro calabouço dos guris
Meu coração bate calado enquanto choro
A Deus imploro mais carinho e atenção
Tirai a canga do pescoço dessa gente
Que só precisa de amor, trabalho e pão
Adeus meu carro de boi
Adeus pau de arara
No ano 2000 que mal virá
Cola, Carandirú, Candelária
Quando isso vai parar
Será que será sempre assim
Será que assim sempre será
A Lavadeira
(Maciel Melo e Rogério Rangel)
Ê lavadeira cantou
No riacho na beira
Lavadeira cantou só pra mim
Ê lavadeira me espera
Que o meu canto sem eira
Nem beira também
Anda triste assim
Na correnteza do rio
A espuma se espalha
Lavando o fio da malha
Que a lavadeira esfregou
Estendendo o seu amor
Num belo e largo sorriso
Muito mais do que preciso
Pra quarar a sua dor
Ê lavadeira cantou
No riacho na beira
Lavadeira cantou só pra mim
Ê lavadeira me espera
Que o meu canto sem eira
Nem beira também
Anda triste assim
Enquanto isso na tarde
O sol vai secando as águas
Queimando os restos de mágoas
Pendurados no suor
E a natureza bonita
Sorridente se esbanja
No capim faz uma franja
Pro rosto do criador
Ê lavadeira cantou
Caboclo Sonhador
(Maciel Melo)
Sou um caboclo sonhador
Meu senhor, viu?
Não queira mudar meu verso
Se é assim não tem conversa
E meu regresso para o brejo
Diminui a minha reza.
Um coração tão sertanejo
Vejam como anda plangente o meu olhar
Mergulhado nos becos do meu passado
Perdido na imensidão desse lugar
Ao lembrar-me das bravuras de Nenem
Perguntar-me a todo instante por Baía
Mega e Quinha como vão? tá tudo bem?
Meu canto é tanto quanto canta o sabiá
Sou devoto de Padim Ciço Romão
Sou tiete do nosso Rei do Cangaço
E em meu regaço fulminado em pensamentos
Em meu rebento sedento eu quero chegar
Deixem que eu cante cantigas de ninar
Abram alas para um novo cantador
Deixem meu verso passar na avenida
Num forrofiádo tão da bexiga de bom
Caia Por Cima De Mim
(Maciel Melo)
Nunca mais eu vi Maria
Nunca mais eu vi o amor
Guardo na lembrança a cor
Do vestido dela
Eu tô roendo
Tô cheinho de saudade
Meu amor por caridade
Bote o rosto na janela
Eu não aguento
Tanta ausência, tanta dor
Parece que o amor
Se esqueceu de mim
Bateu a porta
Deu adeus e foi embora
A solidão me devora
Agora eu tô roendo sim
Traga de volta
A minha felicidade
Abra um sorriso
Cheirando a ruge e carmim
Aceite a dança, solte a trança
E jogue o laço
Se tropeçar no compasso
Caia por cima de mim
Caia, caia, caia por cima de mim
Caia, caia, caia por cima de mim
Que eu te abraço, eu te seguro
Caia por cima de mim
Que Nem Vem-vem
(Maciel Melo)
Quebrei no dente
Um taco da literatura
Tô na história, tô e sei
Que sou motivo pra falar
Entrei de cara, cara
E tô saindo fora
Ta no tempo já é hora
De poder me desfrutar
Semente negra
Eu sou raiz poderosa
Aguada em verso e prosa
Na cacimba de Belá
Meu canto tem
O chaco-chaco de uma cuia
E tem, tem as manhas
Que Mestre Louro plantou
Pra colher um canto
Assim que nem vem-vem
E soar como um acorde de sanfona
Festejar que nem "Passarim" no xerém
Namorar com a batida da zabumba
Tum-tum-tum bate-bate meu coração
Por um forró
Que nem os de passagem funda
Tum-tum-tum bate-bate meu coração
Da-lhe zabumba
E Jacsom no pandeiro é ás
Tum-tum-tum bate-bate meu coração
Se essa morena não me quer
Não quero mais
"A Arte Do Meu Povo!!!"
falar de maciel melo,é prazeroso,é um artista
ResponderExcluirque nos orgulha pela sua poesia simples cheirando a terra molhada,tem um pouco de Zé Dantas e de
Luiz Gonzaga, é maravilhoso. um abraço forte
do letrista Nane Poesia.