Nivaldo CruzCredo – 23.02.2014
Hoje amanheci diferente
Fiquei meio atravessado,
Fui num Centro Espírita
E mandei um bom recado
Para dizer a Lampião,
Se quisesse sair na mão
Viesse, que eu tava preparado.
Que o tipo de arma
Ele que escolhesse,
Mas que não demorasse
Se não quisesse que eu descesse,
Por que aí ia ser pior,
Então era bem melhor
Que ele não esmorecesse.
Enquanto me preparava
Peguei uma cascavel
Arranquei o seu chucalho
Com uma mordida cruel
Depois soltei a bicha
Que correu feito lagartixa
Por esse mundaréu.
Peguei uma onça pelo rabo
Sacudi a danada no ar,
A tal ficou foi tonta
Sem aguentar nem andar
Saiu bêbada cambaleando
Se batendo, desconjuntando
Sem nem para trás olhar.
Num ôco dum pé de pau,
Ví uma casa de italiana
Era abelha para danar
Mas aí eu fui sacana
Subí alí, meti a mão
Tomei mel do cabação
E saí cuspindo fulana.
Quando em minha casa
Eu vinha chegando
Um bicho esquisito com
Cheiro de enxofre soltando
Atravessou na minha frente,
Quando ia bater nele de repente,
O tal foi logo me falando.
- Eu vim foi bem em paz
Não me bata por favor
Tô aqui é com um recado
De Lampião pro senhor,
Ele disse que não vem cá
Porque não quer mais brigar,
Hoje ele tem outro valor.
Fiquei bem revoltado
E muito emputecido,
Perguntei pro tal diabo,
O que tinha acontecido
Para o rei do cangaço nordestino
Ter virado um Zé Mufino,
Cabra frôxo, desmilinguido.
O talzinho me respondeu,
- Lampião tá diferente
Não quer saber mais de briga
Até brinca com a gente
Virou cabra estudioso,
É aluno do tinhoso,
Mas não é inconsequente.
Diz ele que tá se preparando
Para quando pra cá voltar,
Ele vai é tomar o Nordeste
Mas sem arma de fogo usar,
De um jeito bem matreiro
Vai ser rei desse lado brasileiro.
E nisso você pode acreditar.
Eu não me aguentei e perguntei,
- Que diabo vai fazer Lampião
Para tomar o Nordeste e ser rei
Sem o seu Parabelum na mão?
Ele sem cerimônia me respondeu,
- Só com o estudo, compreendeu?
Eu bem incafifado disse, - Não!
Ele olhou pra minha cara
Rindo de arreganhar os dente,
Eu olhei feio pro bicho
E de forma impaciente
Peguei pelo gogó do cabra
E disse: - Se avexe logo, se abra!
Joguei o coisa lá pra frente.
Ele voou bem alto e
Caiu por lá estatalado
Foi falando ligeiro
De modo bem apressado
- Não se aperrêi meu branco
Que sou só um diabo manco
E bicho véi de recado.
Mas respondendo sua pergunta,
Lampião já tá certo, vai voltar
Vai nascer aqui no Nordeste
E em tudo vai mandar,
Para isso o próprio cão
Tá lhe dando a lição,
Para ele poder governar.
Como um advogado
Ele vai bem começar
Depois em juiz de direito
Vai ele se transformar
Dai para ser rei é ligeiro
Pois vai ser matreiro
Na arte de enganar.
Sendo assim ele não quer
Mais em arma pegar
Já liberou seus cabra tudo
Todos eles para estudar
Vão ser tudo advogado
Para continuar no pecado
E nenhum se salvar.
Dizendo isso o bicho explodiu,
Uma catinga de enxofre ficou,
Fiquei tonteado sem saber
Se o que o dito feio falou,
Era mesmo verdade verdadeira
Ou se era uma besta brincadeira
Que o cabra Lampião aplicou.
Num confio, nem desconfio
Seja como for tô preparado
Só ando na posição de ataque
Tô com corpo bem fechado
Pode ser o que for ,vir o que vier
E de onde for, pode vir se quiser
Eu sou é cabra valente falado.
Não corro de perigo nenhum
Sou é valente Nordestino
Pode vir de qualquer um
Que não fujo meu destino
Seja gente ou bicho imundo
Seja desse ou do outro mundo,
Cai na pêa igual menino.
Oi, Nivaldo, essa fala nordestina é de arte bem popular...mas me diga, será que já não está por aí o dito de quem se fala?
ResponderExcluir(rs).Um abraço
Rsrs pois é. Acredito que sim!!
Excluirpretty nice blog, following :)
ResponderExcluirThank you very much!
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