sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O Prejuízo do Artomove


Esse causo é mais um que faço uma adaptação da obra do grande Chico Anysio, para a poesia popular. O original tem o título “A Vaca Da Estrada”, e encontra-se no livro “ O Tocador de Tuba”, editado pela Editora Rocco Ltda, no ano de 1977.



Minha intenção principal é que a memória do grande Francisco Anysio de Paula não seja esquecida.





 


 




O Prejuízo do Artomove
Nivaldo CruzCredo – 12.10.2012


Esse negoço de artomove
Pá mim né de Deus não
Acho que tem parte cum Cão,
Tem gente que aprove,
Prefiro os qui dizaprove,
Confio mesmo é nos pé
É mais seguro seu Zé,
Inté num cavalo eu  vou
Mas tem qui ser  machador
Igual os do seu coroné.

Essas peste toda de ferro
Que sorta muita fumaça,
Faz um barúi da disgraça,
Num gosto é berro,
Porque sei que num érro,
- É coisa do coisa ruim!
E num é feito pra mim,
Goste do bicho que quiser,
Véi , home, minino, mulé,
Mas longe do meu cantim.

Um dia desses passado
Tava no meu canto pensando,
Quando ouvi um avançando,
Deu um pipôco retado
E um mugido engasgado,
Que eu corri e a cerca pulei
Foi quando averigüei
E vi a atual situação
O bicho amassado e a vaca no chão,
A bichinha o último suspiro deu
Cum o zói arregalado, olhando pá eu
Na frente daquela coisa do Cão.

Dois cabra de dentro saiu
Cum roupa de gente rica,
Era fazendeiro ou mitido em política,
Gritáro  - Puta que pariu!,
Pelas fala, eles era do Rio,
Olharo o carro todinho
Da frente todo lugarzinho,
Viro que num dava pra sair
Tinha quebrado argo ali,
O jeito era ficar no caminho.

Fui chegando de mansinho,
Um dos home gritava
Tudo que é nome chingava
E dizia – O meu carrinho
Tava tão bunitinho!
Eu tentei  acalmar,
Ele veio de lá
Bem pra cima de mim,
Já vinha dizendo assim,
Isso aqui é qui lugar?

A Fazendo Do Meio, patrão
É onde o sinhô está
E lhe digo, a vaca vai pagar!
O home deu ripuxão,
Estatalou os zoião
- Num pago de jeito maneira!
Gritou fazendo zueira,
A culpa é do dono da vaca
Que não deixou  atrás da estaca,
Essa é a verdade verdadeira.

Eu disse - pode  ser seu moço
O sinhô tem até  razão,
Pra ver aquela situação
Foi chegando Zé  Caroço,
Ton´i de Bila e Nem Pescoço,
O outro home começou a oiá
E eu dizendo a vaca tem de pagar,
O cabra dizia que não,
Num dava nem um tostão.
Que eu é que tinha de dar.

Mais gente começou a chegar,
Os povo de Anton’i  Seco,
Mais de 10 lá do Beco,
Tudo gente minha, do lugar
E eu dizendo - A vaca vai pagar!
Ele dizia - Vou até o governador
Quem vai me pagar é o senhor!
Eu disse – O senhor ta certo,
O outro chamou ele pá perto
E falou umas coisa no escutador.

Enquanto eles conversava
Nós trinta ficava oiando,
Matutinho cum sua foice brincava
E os dois de lá também oiava,
Num sei o qui acunteceu,
Que o cabra veio até eu
E foi longo me perguntando
Quanto é que fica custando
Esse tal prejuízo que deu.

Mil reais pra mim  tava pago,
Ele gritou q’era abuso demais,
Mas logo o outro rapaz
Disse que pagava o estrago,
Oiando no zói de Zé Gago
Que tava balançando o facão,
O outro até disse que não,
Porém mudou de idéia ligêro,
Puxou a cartêra, tirou o dinhêro.

Acho até que foi Chico Caçador,
Que cum sua espigarda em punho,
Chegô pra fazer testemunho
Naquele momento doutor,
E o cabra se amedrontou,
Só sei que ele arresolveu
E dez nota de cem me deu
Cum a cara feia e fechada,
Mas sem reclamar de nada,
Nem mais do prejuízo seu.

Passado um tempinho
Apareceu um caminhão
Eles logo dero cum a mão
E pediro o favorzinho
De tirar dali do caminho,
Amarraro o carro detrás,
Botaro força demais
E pegaro a estrada denovo,
Sem nem oiá pro povo,
Nem pro que ficou pra trás.

Vou dizer uma coisa patrão
Faz seis mês que isso se deu
Até hoje num apareceu
E eu num tenho identificação
Nem sequer uma sugestão
De quem seja da vaca o proprietáro
Isso num me tira o intineraro,
Mas confirma meu conceito
Que carro é bicho suspeito
Pra fazer dono de otáro.

Essa é mais uma adaptação
De  Chico Anysio , o maioral
Do nosso humor, grande imortal
Que merece toda celebração,
Essa foi a minha intenção
A “Vaca da Estrada”
Foi a estória aqui adaptada,
Com muita humildade
Por esse fã que na verdade,
Só quer essa memória lembrada.

Francisco Anysio de Paula
Não pode ser esquecido
Sempre deve ser reconhecido
Por seu humor sem jaula,
Por sempre nos dar aula
De como ser brasileiro,
Nordestino, verdadeiro,
Por isso eu lhe rogo e lhe peço,
Conheça o grande universo
Desse cearense altaneiro.

Ator, escritor, humorista
Em tudo foi importante,
Humilde no mesmo instante,
Também foi pintor, radialista,
Na verdade um grande artista,
Que aqui a poesia popular
Só quer mesmo é resgatar,
Mostrando a quem não conhecia
O talento que nele existia
E que o fazia brilhar.




"E VIVA A ARTE DO MEU POVO!!!!"

Um comentário:

  1. Brasil e sua gente...delicia de história que fez lembrar o
    Pedro Malasartes.
    Um abraço

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